Amarelo vivo
"O leiteiro" (grafite sobre Canson) |
Dona
Maria, dona de casa trabalhadora, mãe zelosa, e também, muito observadora.
Certo
dia, ao sair para comprar leite do seu João, notou algo diferente nele:
- Bom
dia, seu João!
- Bom
dia, dona Maria!
- Vou
querer um litro e meio, tá?
- Tudo
bem.
Dito
isso, seu João virou-se para o banco do passageiro de sua pickup, onde estava o
galão de leite, para atender ao pedido. Dona Maria percebeu que ele estava
triste e, depois de pegar a vasilha cheia de leite que estendeu para ela, o seu
rosto surgiu na janela apático, com uma tonalidade muito particular: “um
amarelo vivo”.
A
dona de casa o interpelou:
- Seu
João, estou percebendo que o senhor está um pouco triste... por acaso você está
assim, meio doente?
- Não,
Dona Maria, estou me sentindo ótimo! Por quê?
- Não,
por nada.
O
que seu João não sabia é que Dona Maria possuía dois defeitos graves: era um
pouco negativa e muito insistente.
-
Mas eu estou achando que o senhor está muito pálido!
- É
mesmo? A senhora acha???
O
que ninguém sabia, também, pelo menos não Dona Maria, é que o leiteiro era
muito influenciável.
- É,
o seu rosto está com um tom amarelado: um amarelo vivo!
- Meu
Deus, mas o que a senhora acha que pode ser?
- Não
sei. O que eu sei é que o meu cunhado uma vez ficou amarelo assim, como o
senhor.
- É?
E como ele está?
- Está
melhor do que nós. Pelo menos assim espero.
- Como
assim?
- Não
sei, espero que esteja em um bom lugar.
- Por
que, ele está hospitalizado?
- Não,
está morto, mesmo! Espero que esteja no céu, brincando com os anjinhos... e
mais coradinho, também.
- Nossa!
Eu acho que não estou me sentindo muito bem!
- Pois
é, corre para o hospital, talvez ainda dê tempo, né?
- Tempo
do quê?
- Do
senhor se salvar!
- Nossa,
é isso mesmo que eu vou fazer!
Seu
João conseguiu virar o carro com uma manobra só e subir a rua em três segundos,
até hoje não se sabe como. Todos, inclusive Dona Maria, apostaram que ele
morreria de qualquer jeito: ou de acidente de carro ou de doença grave.
Mas
seu João não morreu nem de uma coisa, nem de outra. Está vivo e forte como
nunca e continua a entregar leite para Dona Maria. E vai com uma camisa
vermelha, que é para não dar a impressão de estar muito pálido.
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